sábado, 13 de julho de 2013

Economia e Clima: Evidências empíricas de que o clima pode afetar o nível de desenvolvimento econômico

Imagine a seguinte situação: você é um extraterrestre, e circula o planeta Terra algumas vezes antes de escolher um lugar para pousar. O que você procura? Você é um ET exigente, quer um local bem desenvolvido, de preferência com vizinhos de semelhante nível social, ricos e que gostem de jogar golfe e beber vinhos que custem mais de 1000 dolares a garrafa. Além disso, você veio de um planeta quente o ano inteiro e curte muito uma praia e a Dona ET é bem friorenta, então você também vai procurar por um lugar de preferência com clima quente o ano todo.

Pois bem, os sistemas de sua nave especial fizeram uma varredura bem detalhada e definiram bem os lugares que você deve descer e se instalar para ter uma qualidade de vida excelente e acesso a todos os bens materiais que a humanidade pode lhe oferecer:


Indice de Desenvolvimento Humano - 2013
Fonte: ONU


Pelo mapa acima está bem claro… para usufruir de tudo que a vida tem de bom e de melhor como um ET da classe A, você deve se instalar nos territórios azuis escuros do mapa.

Mas a decisão não está completa, você não suportaria regiões com estações bem definidas, você precisa de uma região quente o ano inteiro. Eis que seu sistema de varredura lhe apresenta um Segundo mapa:

Mapa de Temperatura Mundial
Fonte: Mapping Service

Segundo os resultados o resultado indicativo é para que você se instale nas regiões alaranjadas e mais avermelhadas do planeta. O que seria interessante pois com sol o ano inteiro a produção de alimentos não será um problema.

Bom, se você se importar muito em ter seu carrão de luxo e beber vinhos caros e a Dona ET ficar te perturbando porque não vai aguentar o frio, você só tem uma solução… Ou procura uma esposa terrestre ou vá procurar outro planeta! Isso mesmo, aqui neste planeta parece haver uma correlação grande entre invernos rigorosos e o índice de desenvolvimento de um país.

Para alguém de fora, o resultado é perturbador. Como pode países assim serem tão desenvolvidos? São países onde não se planta nada durante boa parte do ano e alguns dias não é possível nem sair de casa para ir para escola ou trabalho.

O argumento do subdesenvolvimento por conta de uma colonização por exploração e suas consequências não parecem fazer tanto sentido. Se o clima favorável fosse positivo ao desenvolvimento, provavelmente os povos “equatoriais” teriam se desenvolvido antes e se tornado colonizadores e não colonizados.

Haveria então uma influência do clima em fatores comportamentais destas sociedades que levam naturalmente a um nível superior de desenvolvimento? A resposta parece ser SIM. A diferença básica parece ser a noção de poupança. Sociedades que se desenvolveram em climas mais hostis tiveram de criar a noção coletiva de poupança e gestão de riqueza no tempo para que sobrevivessem.

Quem nunca leu a fábula da cigarra e da formiga? Sob um ponto de vista antropológico parece ser bem claro que ao longo de milênios as sociedades que se desenvolviam em clima equatorial viviam basicamente em subsistência. Não havia necessidade de se preocupar com o amanhã ou se preparar para ele. Não era importante acumular riqueza! O amanhã era sempre um dia igual ao dia de hoje, sem mais nem menos. Já sociedades que se desenvolveram com variações climáticas mais intensas tiveram naturalmente que planejar o amanhã. Criou-se nestas sociedades uma noção importante sobre o tempo, e o diferente valor dos bens ao longo do tempo (noção de juros).

Este padrão comportamental parece claramente ser uma vantagem competitiva para o desenvolvimento destas nações. Utilizando o que foi dito no Post de 9 de julho, parece claro que o governo destes países desenvolvidos tem uma função objetivo um pouco mais centrada no longo prazo. Eles sabem o valor no tempo da produção e de suas ações, pois ao longo de gerações e gerações tiveram de saber administrar a produção e bens para os invernos vindouros.

Já nações “equatoriais” parecem sempre perdidas na administração do longo prazo. Sempre perdidas na administração dos recursos no tempo (mesmo com juros altos, poupam pouco).  Vivem basicamente sustentando suas necessidades correntes e falta planejamento. Impressionante como essa influência do clima no índice de desenvolvimento parece ser tão preciso até quando analisamos de forma mais localizada. Como quando analisamos o desenvolvimento de diferentes regiões do Brasil. Ou ter no continente africano a Africa do Sul como país mais desenvolvido.

         
Então é isso? Sob um ponto de vista antropológico estamos fadados ao subdesenvolvimento eterno? Não acredito que seja verdade. Acredito que se tivermos consciência de que padrões comportamentais são importantes para o desenvolvimento podemos tomar ações que nos levem nesta direção. Voltando para a economia brasileira entretanto, acredito que não estamos no caminho certo. Estamos agindo como sempre agimos… gerações após gerações. Temos o aumento expressivo do dispêndio para despesas correntes (com programas sociais que só saciam o consumo presente e não preparam nada para o longo prazo). Temos também baixa taxa de poupança e investimento. Tudo isto nos manterá em curso contrário ao desenvolvimento. A vantage é que espantamos qualquer possibilidade de sermos invadidos por um bando de ETs playboys e suas naves de luxo.  

4 comentários:

  1. O problema desse raciocínio é que ele não explica que nações hoje prósperas que também são de clima muito frio, como as da Escandinávia, já tiveram elevados níveis de pobreza.

    Na Finlândia, atualmente campeã mundial em campeonatos de matemática, camponeses vendiam os próprios filhos em mercados de escravos, no final do século XIX. Na Islândia períodos de fome eram comuns até o início do século XX e a Noruega literalmente exportou jovens para Inglaterra até 1973, quando as reservas de gás natural do país começaram a ser exploradas.

    Outra coisa: a Austrália não é exatamente o exemplo de nação de clima "europeu", mas é desenvolvida.

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    1. Na verdade não vejo antagonismo entre o que foi comentado e o texto. O artigo em nenhum momento procurou explicar porque nações com invernos rigorosos no passado eram pobres.

      Ao contrário, o texto buscou exatamente resgatar que a existência de um clima mais hostil pode ter sido responsável por um padrão comportamental que lhes deram alguma vantagem comparativa nos últimos tempos. Vantagens comparativas estas que possibilitaram alguns destes países sair de condições de pobreza e atingir seus atuais níveis de desenvolvimento. Segundo o texto este padrão comportamental estaria relacionado a cultura de planejamento e sacrifício de consumo presente para colher mais prosperidade no futuro (noção de poupança).
      Estes padrões comportamentais podem gerar mais valor ainda na economia contemporânea, dada a evolução do sistema financeiro e de capitais.

      Outra questão é que o texto também não afirma que uma nação só pode se desenvolver se tiver clima frio. Apenas se mostra a repetição de um padrão. A existência de outliers é um fato, e não invalida o raciocínio. A Albânia tem índice de desenvolvimento muito baixo e Cingapura está praticamente na linha do equador e tem desenvolvimento alto. Isto não invalida o padrão nem o raciocínio.

      Quanto a Austrália, chega a ser curioso, mas a grande maioria de sua população se concentra exatamente no Sul, onde o clima é mais temperado e existe sim estações bem definidas.

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  2. Olha, o problema do artigo é o mesmo de outras análises sobre clima e desenvolvimento, o de dar um ar extemporâneo a questão. Se esquece do passado até que não muito distante de certas sociedades hoje prósperas, não se analisa os motivos de em outra época elas terem sido miseráveis.

    Antes da Inglaterra se tornar uma grande potência colonial e industrial, foi uma miserável exportadora de lã. Teria o frio motivado uma população predominantemente camponesa a partir de um certo momento poupar e planejar? O que trouxe a riqueza para a nação foi uma elite que soube aproveitar as oportunidades que surgiam (descoberta da América, criação de uma frota mercantil para exportar as próprias mercadorias, estratégia inteligente de expansão colonial, acumulação do ouro e prata que Portugal e Espanha tiravam das colonias e gastavam de forma perdulária, e a industrialização). Frio? Ora, Portugal foi mais desenvolvida do que a Inglaterra, com temperaturas bem maiores. Junto com a Espanha - também quente para os padrões europeus - iniciou as grandes navegações.

    Como explicar que esses dois países se tornaram potências de alcance global (bem antes da Inglaterra, Alemanha, França, Holanda) sem invernos mais rigorosos?

    A Albânia ainda não superou o atraso de décadas de comunismo stalinista (é bem menos desenvolvida do que Kossovo, habitada por uma maioria de albaneses étnicos) e Cingapura foi beneficiada por sua incrível localização geográfica, bem explorada pelos ingleses. O mesmo vale para Hong Kong, localizada em uma área bem quente da China.

    Quanto a Austrália, o modelo inicial de colonização britânico se baseou na estratégia de se distribuir lotes de terra para detentos tão logo eles terminassem as suas penas (Sidney começou como uma simples colonia penal, em 1786, se não me engano), terras que é lógico, ficavam mais ao sul, onde passaram a criar ovelhas. Mas o grande salto de desenvolvimento da colonia ocorreu no século XIX, com a descoberta de ouro em áreas desérticas e quentes.

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  3. Amigo, a questao vai alem do "frio". Nacoes que passaram por guerras, expostas a desastres naturais como Japao.... Todas tem sim um padrao comportamental que parece diferente no que tange o longo prazo e nocao de poupanca.

    Quanto a Cingapura estas bem equivocado. Quando colonia inglesa Cingapura era muito pobre, uma cidade suja e violenta. Depois passou a dominio da Malasia e pasme, Cingapura era tao problematica que foi a unica nacao que se tornou independente contra propria vontade. Simplesmente a Malasia abriu mao de Cingapura. Malasia que por sinal nao era nenhum primor de desenvolvimento e nem o eh hoje. Mas a epoca o Pib malaio era muito superior ao cingapuriano. E pasme, hoje Cingapura tem pib muito superior a Malasia.

    No caso Cingapuriano Lee Kuan Yew teve papel fundamental com um planejamento de longo prazo e reformas estruturantes.

    O tema eh polemico, nao tem duvidas. Que fique claro mais uma vez que nao eh a ideia do texto simplificar desenvolvimento a um fator exogeno como clima. Claro que outros aspectos historicos e geograficos desempenham importante funcao. Apenas identifica-se um padrao no minimo curioso.

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