Recentemente a
Presidente Dilma fez declarações de que vamos atingir a meta de inflação.
Declarou também que: "A inflação no Brasil vem caindo de maneira
consistente nos últimos meses". O discurso não surpreende, mas
vamos aos fatos.
Hoje no Brasil a inflação “come
solta” e disseminada em patamar próximo ao dobro da meta, em um quadro que se
deteriora cada vez mais. Todos que estão lendo este texto percebem hoje em dia
inflação muito superior aos 6,7% acumulados em 12 meses do IPCA. O que ocorre é
que o IPCA nos últimos 2 anos vem sendo constantemente “ajustado” pelo governo
através dos preços administrados. Enquanto os preços livres do IPCA mostram
inflação de 8,28%, os preços administrados do índice apresentam variação de
1,77%.
Outra afirmação da presidente foi de
que a inflação elevada que estamos observando deriva de fatores sazonais. Mais
uma vez vamos aos fatos. A maior distorção de preços que observamos no índice
do IPCA hoje é justamente o índice de inflação observado nos preços
administrados em um patamar muito inferior ao do restante da economia. O que há
de mais sazonal impactando o índice ao longo de 2013 são justamente as inúmeras
“canetadas” deferidas até agora com o único intuito de “maquiar” o índice oficial
do regime de metas. Por que sazonal? O impacto da revisão dos contraltos de
concessão de energia elétrica só se dá uma vez, para reduzir mais as tarifas de
energia, alguma outra “canetada” tem que ser elaborada. As diversas
desonerações também tem seu impacto apenas por um período de tempo. O
congelamento de preços de combustíveis também não é sustentável no médio prazo,
com pesados prejuízos ao caixa da empresa que mais investe no Brasil.
Outra observação importante é que a meta de inflação no Brasil é de
4,5% com tolerância de +/- 2%. O que faz com que o 6,5% seja tão “perseguido”
quanto o “2,5%”. Pois bem, pelas declarações da equipe econômica e da presidente
me parece que ninguém mais acredita em Meta de 4,5%. A verdadeira meta da
equipe econômica hoje é 6,5%, e pelo visto com alguma tolerância para cima.
Estes dados aqui abordados podem ser
melhor vistos na tabela abaixo, que abre a composição do índice do IPCA:
A tabela abaixo
também pode ser encontrada no site do Banco Central:
Ao observarmos a
tabela acima, vemos claramente que há um descontrole inflacionário nítido nos
preços livres. A trajetória é crescente e de 2012 para cá NUNCA esteve na meta
(4,5%). Para piorar, desde dez/12 ela ultrapassou o teto da meta e hoje se
encontra em patamar próximo ao dobro da meta oficial de 4,5%.
Do outro lado da
tabela vemos provavelmente a que nossa presidente se referiu. O índice de
preços monitorados tem trajetória decrescente desde 2012. A manipulação dos
preços administrados tem por objetivo simplesmente gerar um impacto no índice
consolidado de forma que o governo pudesse seguir sua política de juros abaixo
do equilíbrio e incentivo ao endividamento das famílias.
O problema desta
política é que ela distorce a economia. E este índice mais baixo dos preços
administrados tem um custo elevado. Via desonerações temos o custo via redução
de superavit e consequente deterioração das contas públicas. Via congelamento
de preços de combustíveis temos um impacto terrível nas finanças da Petrobras.
A renovação das concessões do setor elétrico foram no mínimo mal transmitidas
ao setor privado gerando uma grande desconfiança de investidores. O pior custo
no entanto é que enquanto perduram os efeitos das “canetadas” mais se distorce
a economia e mais se dissipa a inflação no restante da economia.
Ao olhar os numeros,
discordo de nossa presidente. Não acredito que hajam mais “balas na agulha”, ou
melhor… “tinta nas canetas” do governo para jogar o índice dos preços monitorados
ainda mais para baixo. E se o fizessem, estariam apenas criando um problema
ainda maior no futuro. Os preços livres estão completamente descontrolados, em
tendência clara de alta e com fatores preocupantes como a recente alta do dólar. Nossa política de
juros ainda está defasada em relação aos preços livres. Nosso juros real hoje
está praticamente zero, isto é, no mesmo patamar que estava no início do ano. Nossa
política monetária segue inflacionária, a fiscal então… (política fiscal
provavelmente daria mais uma infinidade de posts)
A conclusão é
que o cenário não está bom e não deve melhorar. O fato do ano de 2014 ser um
ano eleitoral vai impedir uma política monetária firme para controle da
inflação. A meta oficial já não é 4,5% e nossa economia indexada vai propagar
esta inflação por alguns longos anos. Comprar dólar como investimento hoje em
dia não me parece uma má idéia.
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