sábado, 20 de julho de 2013

Metas de Inflação: Que metas, Dilma?

            Recentemente a Presidente Dilma fez declarações de que vamos atingir a meta de inflação. Declarou também que: "A inflação no Brasil vem caindo de maneira consistente nos últimos meses". O discurso não surpreende, mas vamos aos fatos.
            Hoje no Brasil a inflação “come solta” e disseminada em patamar próximo ao dobro da meta, em um quadro que se deteriora cada vez mais. Todos que estão lendo este texto percebem hoje em dia inflação muito superior aos 6,7% acumulados em 12 meses do IPCA. O que ocorre é que o IPCA nos últimos 2 anos vem sendo constantemente “ajustado” pelo governo através dos preços administrados.  Enquanto os preços livres do IPCA mostram inflação de 8,28%, os preços administrados do índice apresentam variação de 1,77%.
            Outra afirmação da presidente foi de que a inflação elevada que estamos observando deriva de fatores sazonais. Mais uma vez vamos aos fatos. A maior distorção de preços que observamos no índice do IPCA hoje é justamente o índice de inflação observado nos preços administrados em um patamar muito inferior ao do restante da economia. O que há de mais sazonal impactando o índice ao longo de 2013 são justamente as inúmeras “canetadas” deferidas até agora com o único intuito de “maquiar” o índice oficial do regime de metas. Por que sazonal? O impacto da revisão dos contraltos de concessão de energia elétrica só se dá uma vez, para reduzir mais as tarifas de energia, alguma outra “canetada” tem que ser elaborada. As diversas desonerações também tem seu impacto apenas por um período de tempo. O congelamento de preços de combustíveis também não é sustentável no médio prazo, com pesados prejuízos ao caixa da empresa que mais investe no Brasil.
Outra observação importante é que a meta de inflação no Brasil é de 4,5% com tolerância de +/- 2%. O que faz com que o 6,5% seja tão “perseguido” quanto o “2,5%”. Pois bem, pelas declarações da equipe econômica e da presidente me parece que ninguém mais acredita em Meta de 4,5%. A verdadeira meta da equipe econômica hoje é 6,5%, e pelo visto com alguma tolerância para cima.
         Estes dados aqui abordados podem ser melhor vistos na tabela abaixo, que abre a composição do índice do IPCA:
A tabela abaixo também pode ser encontrada no site do Banco Central:

Ao observarmos a tabela acima, vemos claramente que há um descontrole inflacionário nítido nos preços livres. A trajetória é crescente e de 2012 para cá NUNCA esteve na meta (4,5%). Para piorar, desde dez/12 ela ultrapassou o teto da meta e hoje se encontra em patamar próximo ao dobro da meta oficial de 4,5%.
Do outro lado da tabela vemos provavelmente a que nossa presidente se referiu. O índice de preços monitorados tem trajetória decrescente desde 2012. A manipulação dos preços administrados tem por objetivo simplesmente gerar um impacto no índice consolidado de forma que o governo pudesse seguir sua política de juros abaixo do equilíbrio e incentivo ao endividamento das famílias.
O problema desta política é que ela distorce a economia. E este índice mais baixo dos preços administrados tem um custo elevado. Via desonerações temos o custo via redução de superavit e consequente deterioração das contas públicas. Via congelamento de preços de combustíveis temos um impacto terrível nas finanças da Petrobras. A renovação das concessões do setor elétrico foram no mínimo mal transmitidas ao setor privado gerando uma grande desconfiança de investidores. O pior custo no entanto é que enquanto perduram os efeitos das “canetadas” mais se distorce a economia e mais se dissipa a inflação no restante da economia.
Ao olhar os numeros, discordo de nossa presidente. Não acredito que hajam mais “balas na agulha”, ou melhor… “tinta nas canetas” do governo para jogar o índice dos preços monitorados ainda mais para baixo. E se o fizessem, estariam apenas criando um problema ainda maior no futuro. Os preços livres estão completamente descontrolados, em tendência clara de alta e com fatores preocupantes como  a recente alta do dólar. Nossa política de juros ainda está defasada em relação aos preços livres. Nosso juros real hoje está praticamente zero, isto é, no mesmo patamar que estava no início do ano. Nossa política monetária segue inflacionária, a fiscal então… (política fiscal provavelmente daria mais uma infinidade de posts)
A conclusão é que o cenário não está bom e não deve melhorar. O fato do ano de 2014 ser um ano eleitoral vai impedir uma política monetária firme para controle da inflação. A meta oficial já não é 4,5% e nossa economia indexada vai propagar esta inflação por alguns longos anos. Comprar dólar como investimento hoje em dia não me parece uma má idéia.

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